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Entrevista com Carlos Roberto Monteiro


Carlos R. Monteiro e sua coleção de Sergio Mendes

Uma das frases mais comuns no meio artístico da capital paranaense, principalmente no meio musical, é a famigerada: “Curitiba não tem público”. Essa frase refere-se à imensa quantidade de bandas, cantores, estúdios, compositores, artistas, etc... Que sofrem com a falta de espaço para tocar e pior ainda, quando tem espaço não tem público. A pergunta que não quer calar é: por que não tem público? Será que a produção musical local é tão ruim? Será que é falta de divulgação e apoio? Será culpa dos próprios artistas? Pois o Blog do Som descobriu que existe público em Curitiba sim meus amigos! Existe um! Um cara que está em praticamente todos os shows, em todos os lugares, comprando os CDs, colecionando cartazes, interagindo com os artistas... Hoje vamos conhecer um pouco o outro lado, o lado do público, que sai de casa para assistir os artistas da sua cidade. Será que ele é um masoquista? Será que ficou louco? Ou será ele um exemplo a ser seguido? Vamos descobrir...


BSFale um pouco de você.

CRM - Bom primeiramente gostaria de agradecer o convite para esta entrevista, que com muita satisfação vamos começar...Nasci em Curitiba no Hospital da Policia Militar. Meu Pai era Capitão de Polícia. Uma tradição de família, meu tio e avô paterno também eram militares, Mas eu e meu irmão e primos não seguimos carreira militar. Apesar de ter tido uma educação extremamente rígida e severa! Mas tenho muito orgulho disto! Me considero jovem, mas tô naquela fase que a gente presta mais atenção nas coisas e vê que nossos pais tinham razão sobre muitos assuntos. Voltando a falar de educação acho que é o que falta um pouco hoje em dia. Não repressão, mas sim educação, respeito, dignidade. Hoje as pessoas misturam tudo e transformam a liberdade de suas atitudes em ofensas, preconceitos e comportamentos que não representam aquilo que aprendi como um ideal de educação. É muita informação e pouca formação. As pessoas falam, dissertam o que elas acham que sabem ou vêem, escutam e passam para frente, sem ao menos pesquisar sobre o que estão falando. Minha mãe foi professora primária. Morei em Curitiba até 1975 o ano da famosa neve que caiu na capital paranaense. Meu pai foi transferido para Londrina, a terra do café e por lá fiquei até 1980. Nesta época meu pai foi responsável pela segurança do Roberto Carlos quando ele foi se apresentar no Estádio do Moringão, tenho isso na memória até hoje. Em 1981 voltei pra Curitiba. Fiz prótese Odontológica no Colégio Estadual do Paraná no final da década de 80 e trabalhei como escultor dental. Um trabalho que exige atenção, habilidade manual para esculpir os elementos que fazem parte da face humana. Desde essa época já misturava isso com música. Ficava os fins de semana, fazendo os trabalho para o Colégio, ouvindo os Lps da minha coleção. Eram domingos inteiros esculpindo com música ambiente. Depois fiz Administração de empresas, mas não segui carreira. O gosto é pela música. A Prótese não é uma paixão ela me dá a segurança de ter um bom padrão de vida e poder sustentar a minha coleção de música que é bem eclética e vasta. Já passei dos 5000 Lps, CDs e DVDs. Entendo mais de música do que de prótese, com certeza!!! Respondendo o que você falou no iníci, acho que sou sim um pouco masoquista porque sempre fui contra tudo aquilo que é imposto para assistirmos. Ou seja, tudo que a mídia diz que é bom tem que ser absorvido e nem sempre isso é verdade. Masoquista também porque encontro muita resistência das pessoas (público que vai aos shows /ou não ) e de funcionários de Centros Culturais que geralmente recebem mal quem tenta prestigiar nossos artistas. Na verdade muita campanha contra, que dá vontade de desistir. Mas como admiro a arte feita aqui continuo indo, mas as vezes é desestimulante. Já tive casos em que fui pedir um cartaz de um show do Du Gomide em um destes lugares e a pessoa ficou irritada comigo!!! Disse que ia virar moda! Todo mundo ia começar a pegar os cartazes!!!

O tal indivíduo disse que preferia jogar fora o cartaz do que guardar para mim depois da apresentação! Nunca mais fui assistir apresentação neste lugar. No que se refere a cartaz, me lembrei de uma passagem interessante na Oficina de Música de 2014 quando a Rogéria Holtz ia se apresentar no Paiol, lançar o CD com o grupo Natocaia. O cartaz do show ficou legal,com a parte gráfica e a foto preta e branca com destaque para a grafia com o nome da Rogéria. Eles fizeram apenas 10 cartazes e antes do show acontecer todos os cartazes desapareceram!!! O motivo foi a beleza do material, ou seja eu peguei 1 sim, confesso, mas não fiquei sozinho nessa. E de louco todo mundo tem um pouco! Uns são loucos por Futebol, F1, Basquete e esporte afins, eu sou louco por música. E principalmente a feita aqui! Mas não acho que sou exemplo para ninguém. Apesar de ouvir isso sempre. Exemplo em vários sentidos. Falando nisso lembrei que no Paiol uma vez levei um cartaz da banda que ia se apresentar e ao final do show quando eles foram me autografar algumas pessoas viram e fizeram a mesma coisa, ou seja, tiraram todos os cartazes dela que tinham no painel na entrada neste caso sim, fui um exemplo a ser seguido literalmente. Acredito sim que posso ajudar a aumentar a auto-estima dos músicos e por consequência, levar mais pessoas para conhecê-los, para que entendam que aqui temos grandes instrumentistas, cantores (as), compositores, artes no geral. Noto também que muitos que assistem a apresentação não prestam atenção no show! Conversam, ficam com celulares o tempo todo na frente de quem quer acompanhar e ao terminar batem palmas e acabou!!! Saem dali e não sabem nada do que viram ou ouviram. Eu tenho essa necessidade de dizer ao músico o que achei do trabalho, que acompanho sempre, escrever sobre o que vi e percebi, porque se não fizer isso como é que o artista vai saber que tem alguém que realmente admira, valoriza seu trabalho?? Mas não acho que todo mundo precisa fazer isso, cada um tem um pensamento. Eu tenho que expressar a minha, gostem ou não. Sempre fui bem recebido por nossos artistas. 99% foram simpáticos 1% não! (ninguém é perfeito). Mas também já fui a shows que reconheço o talento do grupo/banda/artista mas não gostei, então esse não comento. Descarto!


BS - Sendo um apaixonado por música, quais são os seus estilos preferidos? Quando começou esta paixão? Você toca algum instrumento?

CRM - Sim sou apaixonado por música. Como todo Sagitariano sou meio exagerado com o que gosto. A música é universal não precisa palavras, somente a melodia fala por si só. A música serve para reunir pessoas que comungam do mesmo pensamento mesmo que a pessoa não compreenda a letra quando em outro idioma, mas a melodia, os arranjos, os instrumentos, falam com a pessoa e passam os sentimentos ali propostos. Bom, minha coleção vai de Altamiro Carrilho, Cartola até Janis Joplin, já ouvi muita música estrangeira mas sempre gostei muito mais da Brasileira por ser extremamente rica em gêneros, harmonias, composições e intérpretes. Nesse sentido meus estilos preferidos são o Choro, samba de raiz (Cartola, Nelson Cavaquinho,Noel Rosa verdadeiros poetas da música), a boa MPB (Elis Regina, Clara Nunes), e a elegante Bossa Nova de Tom Jobim, João Gilberto, Deodato, Baden, Powell, Sérgio Mendes (meu preferido) e tantos outros músicos e grupos que se destacaram neste estilo e que são respeitados e adorados até hoje lá fora. Por aqui ainda existe um certo preconceito, aquela coisa de brasileiro que não admite brasileiro que faz sucesso no exterior e volta americanizado como aconteceu


com Carmem Miranda, lá na década de 50. Apesar de ser portuguesa, era considerada brasileira mas quando voltou do Estados Unidos foi taxada de Americanizada!!! Isso continua até hoje. São poucos que são ‘‘admitidos’’ como ‘’bons’’ quando são reconhecidos no exterior e outros que são tidos como verdadeiros ‘‘fenômenos’’ em tempos de internet e são transformados em ‘‘talentos’’ de última hora sem ao menos saberem um acorde de violão!!! Sempre ouvi música em casa. Meu pai tinha uma coleção de bandas militares, orquestras e alguns sambas, muita música instrumental e poucos títulos estrangeiros. Ouvia Lps numa vitrola que era um show na sala. Era um móvel grande com rádio e espaços para guardar os discos, com duas caixas de sons enormes. O som era demais, pena que eu não tenho esse aparelho. Mas tenho três antigas que uso até hoje! Minhas duas avós eram professoras de música e piano. Minha avó materna tocava órgão na Catedral e cantava Ópera também. Lembro quando vinha passar minhas férias em Curitiba, ela fazia apresentações no apartamento que eu morava e dava aula, era ela e outra professora de violino, as duas faziam verdadeiros saraus musicais em casa! Nossa isso era muito bom. Eu ficava ali ouvindo querendo aprender a tocar piano. Mas era só com ela, eu não morava aqui nessa época. As duas eram bem conhecidas na cidade na época. Mas essa coisa de sarau está acontecendo novamente quando vou na casa do Glauco Solter. Esse cara é show! Parece que estou revivendo aqueles dias musicais ricos de tudo! Todas as apresentações que fui lá foram inspiradoras... Fantásticas! Fiz aula de teclado e piano mas fazia faculdade na época e não tive tempo de me aprofundar nos estudos musicais e enfim não segui como deveria. Piano exige muito estudo e prática assim como qualquer instrumento, e acho que quando se começa a praticar desde pequeno o desenvolvimento é bem melhor com resultado positivo. Ainda há tempo, mas... Acho melhor assistir a os nossos queridos músicos da cena local. E ajudá-los no que for necessário, com certeza.

BS – Quando você começou a frequentar os shows dos artistas curitibanos? Você concorda que existe uma dificuldade em conseguir achar e levar o público para os shows aqui? Qual você acha que é a causa disto?

CRM - Comecei a freqüentar os shows dos artistas curitibanos quando fiquei sabendo das rodas de choro do Conservatório de MPB, as quintas feiras em 2011. Sempre escutei música brasileira e fiquei sabendo das rodas ouvindo a rádio educativa, que prima pela seleção nacional. Neste ano, as apresentações tinham Marcela Zanetti (flauta), e Vinicius Chamorro (Violão sete), eles fizeram apresentações no programa Terra Canção do Lydio Roberto na E-Paraná e depois disso, comecei a seguir o programa, e através deste comecei a conhecer os músicos/cantores (as) locais (alguns já conhecia como Trio Quintina). O primeiro show que fui assistir foi do Lydio Roberto, no


teatro Falec, na corrente cultural daquele ano. Estava um sol de rachar na cidade naquele dia! A cidade respirava música/Show. As músicas de Lydio e a sua simpatia e carisma, me fizeram acreditar mais ainda nos músicos paranaenses. Fui falar com ele, para dizer o que achava do trabalho dele e dos nossos artistas e fui extremamente bem recebido, sendo convidado até para assistir as gravações do Terra Canção, o que me deu a oportunidade de ver de perto como se produz um programa e conhecer um lado dos bastidores da música. O Segundo show que tive o prazer de assistir foi o Ectoplasma do Tiziu (Fabiano Silveira). Essa apresentação no Teatro Kraide, foi cativante entre músicos, arranjos, composições e a produção de cena, simples mas de muito bom gosto, tudo a ver com a música apresentada por ele e os competentes companheiros musicais. O show foi tão bom que fui nas duas apresentações que tiveram e foi dele o primeiro cartaz que eu comecei a guardar. Antes já colecionava os cartazes da Feira do Vinil do Canal da Música e dos eventos da E-Paraná. Inclusive a ideia de autografar os cartazes surgiu de uma conversa que tive do Nelson que trabalhava lá. Ele tinha um autógrafo do Marcelo Camelo para o Canal da Música. Foi aqui que me deu a ideia de cartazes autografados. Quando vejo um cartaz que é daqueles que eu gosto e acredito bastante, não sossego enquanto não consigo algum. Mas tudo com muita calma sem desespero! E a vontade de ter para si uma parte daquele trabalho de pessoas que a gente passa a gostar como se fossem meus amigos. Principalmente que vejo nesses artistas um grande potencial de talento, que precisa ser visto e valorizado, aplaudido em todos os sentidos. Concordo com a ideia de que é difícil fazer público em Curitiba. Mas desde que comecei a frequentar a cena e fui me interessando pelo negócio, notei que a falta de público se deve e muito pela falha na divulgação dos eventos/shows. Acho impressionante a total falta de comunicação que existe internamente.


Um desencontro de informações passadas para a mídia e para ao público. Já tive alguns exemplos disto!! E foi muito chato! Parecia que eu tinha que pedir ‘’desculpas’’ por querer assistir nossos músicos!! Diante de total falta de conhecimento de horário, apresentação, ingressos e etc...O último caso aconteceu numa determinada livraria que ia ter uma apresentação de uma de nossas cantoras. Até aqui tudo bem. Mas a divulgação não se encontrava! Cheguei a ouvir que o Show era em outra livraria!!! Sendo que eles tinham um BANNER gigante na entrada e a pessoa insistia em dizer que não era ali!! Sendo que eu sabia de todas as coordenadas, dia e horário e sempre ouvindo ao contrário. Os ingressos a mesma coisa, valores desencontrados e tinham que ser imprimidos em casa!!! Meu Deus! Não é pra ir mesmo! A pessoa chega lá no dia e fica sabendo disso na hora! E como é que faz? Eles não tem ingresso! Desisti, dessa maneira o teatro que querem lançar nunca vai ser conhecido! Concluindo, não acho que é a culpa dos artistas, porque eles entendem é da Música e a parte burocrática tem que ser assumida por gente competente, que saiba o que vai ser apresentado, quando e onde. Por isso tem alguns que se auto produzem para terem certeza de que tudo esta sendo feito de acordo com o projeto idealizado. Mas acredito que para um músico fazer isso deve ser difícil. A falta de apoio ocorre com certeza. Acho interessante quando os artistas são produzidos pelo financiamento coletivo ou seja, são apoiados pelos que gostam e acreditam no trabalho do artistas que as vezes não encontra apoio naqueles que tem uma condições maior de investir na cultura local em questão. E MAIS: falta também alguns artistas valorizarem mais o seu trabalho, porque já presenciei comentários dos próprios que acham que não vai ninguém, e quando chega o dia, se surpreendem! Já fui em apresentações no Teatro PAIOL em noites de chuvas torrenciais, incessantes, mas o teatro lotado! Com artistas locais! (Grupo Nymphas e Rosa Armorial dois exemplos só para citar).


BS – Como você fica sabendo dos próximos shows? Acompanha a página de artistas preferidos, fica sabendo através da imprensa, pela programação dos teatros... Qual é o teu “segredo”?


CRM - Fico sabendo dos shows porque sempre estou em contato com alguns músicos (Glauco Solter é um deles) escuto direto a FM 97.1 (E-Paraná) que anuncia muita coisa boa. Ou seja, quando se gosta do que se é produzido aqui tem que ir atrás! Procurar saber! Divulgar! Mesmo que às vezes as respostas sejam desencontradas. Não sou muito de ficar em páginas na internet...Gosto muito mais do contato olho no olho falar pessoalmente. Acho que isso é insubstituível. Em resumo, me programo pelos cartazes em teatros, anúncios em guias, conversas com pessoas que já me conhecem e avisam e por assim vai. Saio de casa para prestigiar sempre nossos artistas que são altamente competentes e muitas vezes reconhecidos lá fora! Santo de casa faz milagre sim!!


BS – Você tem percebido um aumento na qualidade dos espetáculos dos artistas paranaenses? (na produção, nos arranjos, preocupação com o visual, etc...) Na sua opinião, o que o artista poderia fazer para atrair o público para os shows? (levando em conta que a cidade é chuvosa, ingressos caros, estacionamento, transporte público, concorrência com "Netflix", internet, etc...)


CRM - A Cena musical de Curitiba nunca esteve tão efervescente como agora. Sempre houve produção de shows e espetáculos, mas agora é muita coisa ao mesmo tempo. Curitiba é a cidade da diversidade musical! As produções cresceram bastante sim. Acompanhei shows com grande qualidade em termos de cenário principalmente. Estive em dois que tiveram a assinatura de Aorélio Domingues na cenografia que era fantástica. Um era ‘’Dorotea’’ com Mariana e Marcela Zanette, o cenário da casa era uma idéia genial, com varias portas, janelas e aberturas que iam girando, dando a sensação de estarmos vendo uma mansão, com seus loucos moradores inspirada livremente em Nelson Rodrigues o poeta maldito. E o outro também do Aorélio foi o cenário para o DVD do Rosa Armorial, simples mas com todos os elementos necessários para dar a idéia do programa! Show! Arranjos e figurinos perfeitos. No quesito arranjos, 90% dos shows são ótimos, o que pesa um pouco é o excessivo volume às vezes usado. No Paiol não há necessidade de um volume exagerado!


A acústica é boa e o Teatro é pequeno, em comparação com o Guaíra por exemplo. Mas mesmo assim, constantemente o som fica um pouco fora do tom para quem está na platéia, muitos gritam e acham que isso é sinônimo de qualidade, nem sempre. O Terra Sonora se apresenta sem amplificadores e ninguém reclama! Também já presenciei debates após o show no Paiol e foi comentado sobre o assunto do volume e não deu em nada! Continua igual!! Não é com todos que acontece isso. O Teatro Paiol é ótimo, considero o mais charmoso e acolhedor da cidade, genial transformar o antigo Paiol de pólvora num Teatro, transformar o bélico em Cultura, e olha que a música feita para ele na época por Toquinho e Vinicius foi censurada!! Paiol de Pólvora. Mas a altura do som tem que ser revista para alguns. Quanto a parte de figurino, falta muito! Infelizmente no que se refere a show musical os artistas pecam pela falta de figurino adequado. Não por culpa deles. Alguém tem que dar um exemplo...Esse negócio de bermuda, camiseta e havaiana não fica bonito no Palco. Saímos de casa para ver nossos artistas com alto nível musical que tem, mas quando chega na parte do figurino às vezes decepciona. Em todos os shows que fui fiz uma camiseta referente ao tema ou a banda/grupo do dia e sempre veio alguém me falar da camiseta. O próprio artista poderia se apresentar fazendo propaganda de si mesmo! Muitos iam gostar e querer a camiseta! Isso comigo acontece sempre. E não faço para aparecer, faço porque acredito muito naqueles que visto a camisa literalmente! Há exceções neste aspecto de visual sim. Um deles JAZZ CIGANO QUINTETO, extremamente bem vestidos de acordo com a época da música por eles apresentada! Impecável. ORQUESTRA DE GAFIEIRA SAPATO FURADO, todos visualmente alinhados, onde o furo do sapato e só no titulo. Música boa, arranjos ótimos, TRIO EMANO CHORO, sempre bem arrumados. Grupo de Músicas Celta, bem trajados de acordo! O Espetáculo CYRK do TRIO QUINTINA. Show em todos os sentidos. Figurinos, direção de cena, arranjos, produção, equipe redonda, fechada.

Graças a Deus são paranaenses com orgulho sim! O próprio Gabriel Schwartz quando me vê diz, ‘’CARLOS SEMPRE TODO PARAMENTADO, ELEGANTE!’’. Até ele reconhece! TIZIU também sempre fala das apresentações das minhas camisetas, disse que sempre surpreendo ele! Isso é muito bom! Tanto que eles tem duas camisetas iguais as minhas, só eles!!! Fica a dica, quando quiserem uma opinião, pode falar comigo que vamos atrás do visual. Mesmo no choro que é informal, mas um simples chapéu, um colete já dá um toque de bom gosto e charme à música apresentada. Para atrair o público acho que o Artista tem que fazer propaganda dele por ele! Muitos fazem shows mas não levam os CD’s. Fica difícil. É preciso falar e anunciar. Esse negócio de ficar nas redes sociais para mim não diz muita coisa. Acho que o material físico é necessário, palpável, isso dá um gosto do que é o trabalho, não fica tão impessoal. É minha opinião, o artista tem que ser mais ousado, apresentar composições próprias fazer shows mais constantes, aqui não temos turnês e isso cria hábito no publico. Quanto às chuvas curitibanas!!! É um caso sério. Mas isso não vai mudar com certeza. Como já disse, já fui em shows que choveram durante três dias de apresentação, e todos eles estiveram lotados! O ingresso dos shows locais não são motivos de falta de público. São baratos. O problema é às vezes na sincronia dos preços e horários, muitas apresentações acontecem em espaços culturais bons e são de graça. A casa HEITOR STOCKLER DE FRANÇA é um desses lugares. Casa centenária ideal para eventos culturais/musicais/literatura/fotografia exposições e etc... Na maioria das vezes gratuita! Estacionamento tem bastante perto dos locais, transporte são eficientes para os teatros e até aonde já percebi o público, principalmente aqueles mais fiéis, que vão aos shows, não são os mesmo que ficam em casa com a "Netflix" e afins. Eu não tenho isso, não me interessa. Já tenho muito DVD’s de filmes, Shows e séries em casa então isso não me interessa. Concluindo, acredito que o público que vai aos shows não é muito de ver TV, seja aberta ou a cabo, é um público mais aberto à apresentações culturais alternativas independentes, livres de esquemas impostos por grandes meios de comunicação.


BS – Você é um colecionador de vinil. Por que você prefere o vinil e quais são os itens mais raros da sua coleção?


CRM - Vinil é uma paixão também. O bolachão tem uma nostalgia e um carisma imenso. Primeiramente pelo alcance que o som do vinil proporciona. O Lp tem um ritual que atrai muitos colecionadores. O simples fato de tirar o vinil da capa e colocar na picape é bem legal. O vinil é charmoso, pode ser preto, coloridos, Picture, várias formas com capas que são verdadeiras obras primas produzidas para cada tipo de estilo musical/artista. Existem capas censuradas de artistas estrangeiros no Brasil como a de Jimmi Hendrix e de brasileiros também. Assim como capas que viraram verdadeiros ícones de coleção por causa de sua estética ou tema retratado que em sua época não foram muito bem entendidas/compreendidas (como ‘’TODOS OS OLHOS’’ de Tom Zé)


aquele da bola de gude, tem gente que ainda hoje não entende aquilo, dá margem a duas interpretações...) Há também vinis que foram lançados com músicas de artistas estrangeiros e que não foram permitidas a cessão do fonograma para tal lançamento, fazendo com que a gravadora de tal disco tivesse que recolher todos os exemplares do mercado! Depois de lançado! Esse tipo de LP torna-se procurado por que ficou limitada (tiragem). Um dos exemplos mais conhecidos aconteceu com duas trilhas internacionais de novela, isso mesmo, ‘’Brilhante de 1981, e a ‘’Gata comeu’’ 1985. Nessa a primeira seleção internacional tinha uma música de Madonna, "Crazy for You", feita para um filme ‘’Vision Quest’’, portanto não poderia ter sido colocado aqui e os produtores da cantora não cederam os direitos, por que a música era exclusiva do filme nem dos discos de Madonna tem. Marketing dela! A primeira edição da trilha foi recolhida e relançada com outra música no lugar. Isso apenas para mencionar um exemplo simples. Bom, na minha coleção tenho algumas raridades: um deles é um dez polegadas da Aracy de Almeida cantando Noel Rosa com capa de Di Calvacanti ou


seja três ícones num único disco! Tenho mais dois 10 polegadas do Jacob do Bandolim e um do Dorival Caymmi cantando seus sambas. Aliás tenho vários dele, um poeta do mar. Faz parte da coleção também os clássicos LP’s do selo Elenco, aqueles de Bossa Nova, difícil de encontrar como: Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Tom Jobim, Quarteto em Cy , Baden Powell, Astrud Gilberto, João Gilberto e outros. Tem vários importantes de música instrumental como Eumir Deodato (Os Catedráticos) João Donato, Airto Moreira (paranaense que fez os efeitos sonoros do famoso filme Exorcista, de 1975), Hermeto Paschoal, Egberto Gismonti os primeiros de Edu Lobo, Tamba Trio, de Luiz Eça, Zimbo Trio (que acompahava Elis Regina), Octeto de Cesar Camargo Mariano (que consegui na Feira do Vinil do Canal da Música), Luiz Bonfá, Embalo Trio, Sambrasa Trio, Manfredo Fest Trio, quase todos de Walter Wanderley, Milton Banana Trio, todos clássicos e atualíssimos. Mas o campeão da minha coleção é Sérgio Mendes meu favorito tenho mais de 60 títulos dele, Baden Powell também tenho vários, Chico Buarque também, os primeiros de Jorge Ben que são praticamente difíceis de conseguir, assim como de Tim Maia. Coitado de quem for começar a coleção dele agora... Também tenho alguns clássicos de Rock brasileiro como: Mutantes, Casa Das Máquinas, Bixo Da Seda, A


Barca Do Sol, Rita Lee, TUTI FRUTTI, O Terço que depois virou 14 BIS e por ai vai. Os grandes dos samba também fazem parte do acervo como: Cartola, (raros), Adoniram Barbosa, Clementina de Jesus, os primeiros da Leci Brandão, Paulinho da Viola (todos), João Nogueira, Zé Ketti, Nelson Cavaquinho, o primeiro de Altamiro Carrilho, Paulinho Nogueira violonista, o primeiro solo de Toquinho, e muitos outros títulos, impossível mencionar todos!! Acontece quase sempre em feiras, quando pego um LP alguém vê e devolvo, a pessoa vem e pega aquilo como se fosse ouro! Eles reparam nas minhas investidas!!! Recentemente aconteceu com o disco do Victor Assis Brasil de 1974. Eu devolvi e o cara veio feito louco, quase tirou da minha mão o LP, tudo porque me ouviu falando do disco! Como os Afro Sambas do Baden, Também aconteceu algo pitoresco, típico de vendedores de LP. O fulano colocou o anúncio do disco no Facebook, um amigo meu viu e me avisou. Fui na loja e perguntei do dito LP. A resposta veio: É só por encomenda sendo que o LP estava ali, nas minhas mãos!!! O cara não quis me vender! Ele queria levar na feira para ostentar o item desejado!!! Não vendeu!!! Existe um disco do Paulinho da Viola da série ‘’projeto fanzine’’ em que o LP é de Belchior!!! Ou seja, no selo consta o nome de Paulinho mas o gravado é outro! O meu exemplar está certo. Tenho um da Astrud Gilberto que no selo consta música de Jorge Ben, mas o que está gravado neste lado é outra musica. Mas não são todos os exemplares que ocorreu isso. Outro disco que tem uma historia bem conhecida é o da banda Blitz de 1982. O LP tinha duas faixas proibidas pela censura, a solução foi a gravadora ‘’Riscar’’ os sucos das faixas indesejadas!! Nem em casa a pessoa podia ouvir! Tem mais um que aconteceu isso, mas não é muito comentado. O disco Bom Bom da Rita Lee de 1983 também tem duas faixas proibidas/riscadas, Mas somente no exemplares distribuídos pelas rádios, o comercializado não tinha isso, vinha apenas com uma tarja dizendo que tais faixas eram proibidas a sua veiculação pública! E as duas não tem nada demais, se compararmos com as que são permitidas hoje. As letras de Rita Lee nesta época eram proféticas, atuais até hoje, repare na letra de ‘’agora é moda’’ do LP Babilônia de 1978. Também tenho LPS de música internacional e um dos mais significativos e de Shakin' Stevens inglês que fez bastante sucesso no Brasil no inicio de 1982 com o hit ‘’ You drive my crazy’’. Aqui só


saíram dois discos dele. Um álbum de 1983 e outra coletânea que já foi bem rara por que era distribuída para rádios, na época era impossível conseguir. Aqui só existiu uma loja que tinha esse Lp capa verde, o dono do sebo ostentava esse disco na parede e não vendia também!!! É típico de Curitiba, eu quero comprar e os caras não querem vender!! Vai e volta e cai no mesmo ponto: a eterna propaganda contra. Eu acho que isso só acontece aqui!! Impressionante!! Tenho outras raridades que são os Pictures aqueles que a foto do artista vem gravada no próprio LP. Aqui no Brasil foi lançado alguns desses, Djavan, Guilherme Arantes, Fabio Junior exclusivos para os funcionarias da Du Loren, empresas de lingerie, só que depois elas vendiam os discos e quem conseguiu comprar tem um item de colecionador. E som do Picture também é muito bom. Tenho Picture do David Bowie, Shakin Stevens T.REX, o Wham! (George Michael) que alias me lembrou outra passagem. Uma outra Loja tinha o Picture do disco ‘’Faith’’ de George Michael na parede. A pessoa ia vender tudo, eu quis comprar este item, o que você acha que aconteceu!!? Depois vi de novo o mesmo item em outro sebo. E agora, será que consegui?? Acho que não preciso dizer né?!! Aqui em Curitiba se produziu alguns discos de vinil. Eu tenho do grupo Vila Velha que é o primeiro LP paranaense, com música e texto de Inami Custodio Pinto. Excelente!! Disco do Sam Jazz Quintet (Todos, do qual fizeram parte Paulo Chaves Reinaldo Godinho, Hilton Alice), Aquárius Band, O LP "O Contestado", O LP MAPA (movimento atuação paiol) de Marinho Galera e Paulo Vitola, Dirceu Graeser, as Nymphas, Grupo Gralha Azul, Marca Registrada (Pop Rock), Blindagem (inclusive esse foi uma das minhas últimas raridades de 2016, dois compactos também para rádio, sendo que um deles o vinil é verde, o disco foi lançado em 1981 pela continental. Tenho também discos de Waltel Branco compactos de trilhas feito por ele para TV, e um raro de Bossa Nova, (Quarteto 004), com arranjos de Tom Jobim, Eumir Deodato Ugo Marotta e Waltel todos no mesmo LP!!Esse é Show!


BS – Quais foram os shows que você assistiu em 2016 que você destacaria? E quais artistas daqui que você indicaria para as pessoas conhecerem?



CRM - 2016 começou muito bem com as apresentações da Oficina de Música. Fui em todas as que tiveram na Capela Santa Maria, na fase popular: Maytê Correa, Baque Solto, Cara de Baden, Jazz Cigano, Davi Tavares, As Nymphas, Folebaixo todos campeões. Outros shows que destacaria de 2016 foi o das Nymphas no Teatro Paiol do Disco ‘’ Brejeiro’’, sensacional em todos os sentidos, o teatro estava lotado. O show da Thais Morell, beleza e talento de mãos dadas. Outro grande show foi da Juliana Cortes do disco ‘’Gris’’ Também impecável, afinadíssima, elegante. O lançamento do disco do Daniel Migliavacca, com música de Walter Scheibel também foi outra grande apresentação com time de feras no instrumental. Campeoníssimo.


Rendeu um comentário também. A Apresentação do Folebaixo no Paiol, mais um comentário meu, eletrônico com o tradicional, repleto de imagens. O Show ‘’Casa aberta’’ de Janaina Fellini extremamente bem cuidado simpático, inteligente e inspirador. Baby Farrah, outro grande momento de 2016. O show de Lydio Roberto de quem ganhei uma homenagem emocionante na casa Heytor. Caxangá, samba de primeira com músicos de time do campeão Ricardo Salmazo. "Cara de Baden, Jeito de Garoto", espetacular apresentação com arranjos maravilhosos e a voz deliciosa de Luana Godin que apresentou no fim do ano o Show ‘’Sola’’, muito bom. Agora para mim o maior show é o de Iria Braga. Fui no primeiro dela no inicio da turnê de 2015 e em Agosto de 2016 ela fez o final. O repertório era o mesmo mas parecia outro show! Inesquecível!. Ela é incrível, performática, interessante, corajosa, ousada, sempre em movimento, atual, nota 10! Eu indicaria todos aqueles que eu falei mas destacaria: Trio Quintina, Jô Nunes, Rogéria Holtz, Mano a Mano Trio, Murillo da Rós, Ana Cascardo, MUV (de Katia Drummond e Ricardo Verocai), João Pedro Acordeom, João Triska, Julião Boemio, Ruído/MM, Les Infâmes De La Patria, Grupo Braseiro, Thayana Barbosa, Mudaréu, Tao do Trio...

BS – O prefeito eleito disse que cancelará a Oficina de Música de Ctba por falta de verba. Você acompanhou algumas edições anteriores da Oficina? Como você se sente em relação ao cancelamento?

CRM - Sim acompanho a oficina desde 2012, é o momento que a cidade respira música literalmente. Quanto ao cancelamento, acho que se deve a atual situação crítica pela qual o país passa, e no caso, a precária quantidade de verba necessária para que o evento seja realizado com a qualidade de outras edições. E com certeza será realizada quando a situação estiver mais estável com as contas em dias! A única coisa chata foi os contratos e convidados que já tinham suas passagem marcada para o evento tendo que ser canceladas, mas do que adianta cultura para um povo com dor e fome? Mas também acredito que a Oficina traz muito turista, movimenta a cidade, o monetário circula, então com certeza ninguém sai perdendo, somente o público que desta vez vai ter que ficar na expectativa dos fatos. Esse cancelamento rendeu polêmica, pautas para facebook e afins, mas também vai causar uma expectativa maior quando da realização da Oficina de 2017 que provavelmente vai mudar muita coisa nas próximas edições. O tradicional esquema foi trocado pelo futuro incerto, desconhecido. É CURITIBA!

BS – Finalizando. Quais os teus planos para esse próximo ano?

CRM - Ainda não sei quais planos realizarei esse ano, o certo é que continuarei indo nos shows dos nossos queridos artistas locais, em lançamentos de discos com cartazes cada vez mais interessantes para aumentar a coleção daqueles que representam tão bem a memória do músico paranaense. Fazer um blog seria interessante, o Daniel Migliavacca já me disse isso uma vez quando escrevi sobre o show dele, textos sobre os nossos artistas não me falta, tenho alguns e provavelmente outros viram porque é preciso que alguém escreva e propague sobre a arte feita aqui. Também gostaria de participar da produção de shows no que se refere na parte cenográfica, elementos de cena, tenho bastantes idéias, acho que poderia enriquecer mais ainda as produções daqui, com visão de fora. Que venham novas idéias, shows estamos ai para ajudarmos uns aos outros, eu ainda acredito nisso.

(OBS* Agradeço meu amigo Anderson da E-PARANÁ por me ajudar na digitação deste Texto o cara é fera!)

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